2010-10-02

Entrevista a António Manuel Ribeiro, dos UHF, depois do concerto por duas nossas conterrâneas, Fátima Casanova e Raquel Póvoas


“Aldeia Velha roubou-nos o amor”
Por Fátima Casanova e Raquel Póvoas

Podíamos chamar-lhes os Rolling Stones portugueses. São uma banda de rock português do fim dos anos 70, mas nos anos 2000, com trinta anos de carreira e já alguns cabelos brancos, continuam a dar espectáculos como se tivessem 20 anos, com tanta genica e emoção como se não conhecessem os palcos portugueses de cor.

Os UHF, liderados por António Manuel Ribeiro, regressaram a Aldeia Velha sete anos depois de terem dado a conhecer àquela pequena aldeia da raia um concerto de Rock à portuguesa, com letras e emoções bem conhecidas daquele povo. Foi marcado pela recordação daquele concerto, que o povo de Aldeia Velha convidou os UHF para estarem presentes nas Festas em honra de S. João Baptista, a 21 de Agosto de 2010, para mais uma vez apaixonarem uma multidão de todas as gerações, que vibrou desde a primeira à última música daquela banda. O feitiço acabou por virar-se contra o feiticeiro, já que, nas palavras de António Manuel Ribeiro, a genuidade do povo de Aldeia Velha acabou por “roubar o amor” àquela banda, numa clara alusão à sua música nova, “Canção de Roubar o Amor”.

Falámos com António Manuel Ribeiro, para saber o que transmite este povo a uma banda com trinta anos de palcos portugueses.

Como é voltar a Aldeia Velha, o que lhe transmite este povo?
Para já, mais proximidade. Deixámos cá uma boa imagem, há sete anos atrás, e hoje queríamos fazer mais qualquer coisa. Queríamos dar mais de nós. Queríamos dar mais às pessoas. Esta foi a essência do espectáculo. Tivemos imenso prazer a voltar a esta terra.

É um público exigente, o de Aldeia Velha?
É um público que nos obriga a trabalhar muito.

Como é para os UHF dar um concerto numa aldeia, quando estão habituados à cidade? Como é que lidam com essa diferença?
Eu trabalho para os portugueses, e os portugueses não estão só nas cidades. Isto é Portugal. A nossa nação é feita de pequenos pormenores, as pessoas, vilas perdidas, mas é nesse contexto que nós somos uma nação.

Numa aldeia o concerto pode ser mais intimista?
Sinto que as pessoas estão mais atentas, à espera do que vai acontecer. Entre a vaidade de estar no palco, e despachar canções, ou a sinceridade, a vontade de dar um bom espectáculo, a nossa opção é a segunda.

Uma vez que deram um concerto numa terra da Raia, e que um dos elementos da banda é do Soito, conhecem as tradições e a cultura desta zona?
Conheço alguma coisa, porque já venho para aqui há muito tempo. Penso que o primeiro espectáculo que dei no Soito foi em 1979. Já tive em muitos sítios desta zona. Tenho noção que estas festas são essenciais para a ligação das pessoas à terra, especialmente daquelas que saem daqui, que emigram para o estrangeiro ou que emigram para as grandes cidades… Isto é um chamamento…

O facto de dar um espectáculo a um povo com tanta tradição, tão unido, é mais um empolgante para dar um bom espectáculo?
Nós quando chegamos aqui, apesar da nossa experiência, quando chegamos ao palco queremos fazer um bom trabalho.

Sabemos que nesta altura de Agosto costumam percorrer várias aldeias, culturas, povos. Têm mais concertos nesta altura?
Viemos ontem do Alentejo, hoje estamos na Beira Alta e amanhã estamos em Cascais, sítios completamente diferentes… Mas em cada situação, nós entramos com vontade de fazer um espectáculo de acordo com o que vai acontecer, e as pessoas são importantes para nós… Nós moldamos o espectáculo à situação que está a acontecer. A abordagem é sempre diferente!

Gostavam de voltar outra vez a Aldeia Velha?
Claro! Espero bem que sim! Felizmente, os UHF são um grupo que voltam muitas vezes às terras.

Acabam então por criar uma ligação com estas aldeias?
As pessoas gostam e chamam-nos outra vez porque nós temos uma ligação. Há bocado quando estávamos ali a tocar a “Canção De Roubar o Amor”, que é uma música que nem todos conhecem, vimos ali talvez o que é a essência do rock português. Juntar o folclore, o cavaquinho, a batida rock, a guitarra eléctrica, o canto. Muito simples, muito popular (popular da raiz tradicional). Isto é a essência do que nós muitas vezes trabalhamos para chegar aos sítios e termos a linguagem das pessoas, a mesma linguagem.

Se os UHF tivessem que escolher uma das suas músicas para caracterizar o povo de Aldeia Velha, qual seria?
A “Canção de Roubar o Amor”!

Repletos de entusiasmo e ternura pelo povo de Aldeia Velha, os UHF mostraram satisfação e agradecimento a esta Aldeia que já os acostumou a receber tão bem. Porque quem aqui vem, tal como esta banda rock portuguesa, tem vontade de cá voltar e sentir todas as emoções do povo milhareiro, caloroso e inconfundível!
Com a certeza de que as festas de Aldeia Velha continuarão a surpreender todos os que aqui vêm, os oriundos e visitantes já aguardam ansiosamente o próximo mês de Agosto e estão prontos a “roubar o amor” dos próximos artistas que aqui actuarem.

5 comentários:

  1. Tudo bem, mas como já escrevi num comentário no jornal "Cinco Quinas" quem disse que um dos elementos dos UHF é do Soito?
    Onde foram buscar essa ideia?
    De resto, grande entrevista... embora o meu amigo António Manuel Ribeiro se tenha enganado. Os UHF estiveram no Soito em Maio de 1981 e não em 1979.

    Aristides Duarte

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  2. O que os próprios UHF escreveram sobre este concerto de Aldeia Velha, no seu site:

    "Foi um regresso seis anos depois à raia beirã. De novo, uma praça medieval prenhe de público que quis vibrar pela madrugada dentro."

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  3. Olá Aristides,
    Obrigada pelo seu comentário! Foram os próprios UHF que nos disseram que um deles tinha origens no soito :)

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  4. Só pode ter sido um mal-entendido. Que eles já tocaram no Soito , é verdade. Que têm amigos no Soito, é verdade. Que até um rapaz do Soito (David Rito) já tocou com eles em concertos , é verdade. De resto, mais nenhuma ligação ao Soito.

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  5. Quem fez o comentário anterior fui eu

    Aristides

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